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segunda-feira, 16 de julho de 2012

Pôrra, António!!!

Uma vez que foi uma das coisas recomendadas para esta semana, eu resolvi, fazer-me mulher culta, e ler António Lobo Antunes, até porque sou uma fã do "Os Cus de Judas".

Ai vou eu com o meu livrinho acabado de comprar, com as páginas a cheirar a novo, e com menos 15€ na carteira. Mas adiante. O título do livro prometia, "Sôbolos Rios que vão" (Eh lá! É a primeira frase de um poema de Camões, isto só pode ser bom!), vai sair daqui uma coisa profunda.


Abro o livro e começo a ler o primeiro parágrafo:
"Da janela do hospital em Lisboa não eram as pessoas que entravam nem os automóveis entre as árvores nem uma ambulância que via, era o comboio a seguir aos pinheiros, casas, mais pinheiros e a serra ao fundo com o nevoeiro afastando-a dele, era o pássaro do seu medo sem galho onde poisar a tremer os lábios das asas, o ouriço de um castanheiro dantes à entrada do quintal e hoje no interior de si a que o médico chamava cancro aumentando em silêncio, assim que o médico lhe chamou cancro os sinos da igreja começaram o dobre e um cortejo alongou-se em direcção ao cemitério com a urna aberta e uma criança dentro, outras crianças vestidas de serafim de guarda ao caixão, gente de que notava apenas o ruído das botas e portanto não gente, solas e solas, quando a avó no muro com ele desistiu de persignar-se sentiu o cheiro das compotas na despensa, vasos em cada degrau da escada e como vasos intactos não aconteceu fosse o que fosse, por um triz, estendido na maca à saída do exame, não perguntou ao médico
- Não aconteceu fosse o que fosse pois não?
e não aconteceu fosse o que fosse dado os vasos intactos, a avó que morreu há tantos anos ali viva com ele, o avô defunto há mais tempo a ler o jornal com o seu aparelho de surdo, o silêncio do avô alarmou-o fazendo com que o ouriço se lhe dilatasse nas tripas arranhando, doendo, coloco-o numa placa de granito, bato com o martelo e a cabeça esmagada, alguém que não distinguia empurrava-lhe a maca corredor adiante, notava a chuva, caras, letreiros, a governanta do senhor vigário no alpendre enquanto pensava
- É o meu esquife que empurram
a oferecer-lhe uvas
- Apetecem-te uvas menino?"

E agora vocês concluem: "Hã??? What the fuck?". Pois, foi essa a minha questão também.
Para além, de ainda estar a tentar assimilar a relação do pássaro com o ouriço,com a criança dentro da urna, com as solas das botas, a gente que não é gente, a despensa da avó, a cabeça esmagada pelo martelo e se lhe apetecem ou não uvas, não percebo para onde fugiram todos os pontos finais.

Bem, mas como estava numa de leitura, vamos lá a isto! Tive de parar várias vezes para medir a tensão arterial e beber uma tisana relaxante, porque entre cada parágrafo imaginário (é difícil dizer o que é um parágrafo quando não há pontuação), começavam a dar-me uns ataques de raiva com dores no peito a irradiar para o braço esquerdo.
Porque é que o raio do homem não usa pontos? PORQUÊ?




No final, percebi o contexto do livro (obviamente) e devo concordar que tem alguma profundidade, pena que lhe falte a boa gramática portuguesa.

Conclusão:
António Lobo Antunes: o homem que não conhece pontos finais. (ISTO É QUE É UM PONTO FINAL ANTÓNIO! É isto.)

Amêndoa Amarga

Ps - Talvez escreva ainda esta semana, um artigo sem pontos finais e parágrafos imaginários, para ver se gostam!
Ps2 - Mas à parte disto Tó, tu sabes que as amargas te amam e que vão continuar a ler os teus livros, não sabes? *

2 comentários:

  1. Olá, Amêndoa Amarga!
    Experimenta ler Saramago!!! ;D
    Boas leituras amargas! :)

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  2. Eheheh

    Olá Ana.
    Curiosamente também temos uma relação de amor-ódio com o eterno Saramago, mas à parte disso há que valorizar o que é nosso :)))

    Obrigado pelo feedback ;)

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As amargas vão ler o teu comentário e aprová-lo (mas só se for assim muito devasso)!