Ao
contrário do que já estão para aí a pensar, este artigo não retrata
práticas sexuais ordinárias nem tampouco o conselho do nosso
Primeiro-Ministro (esse grande filho da...mãe dele) para emigrarmos. Retrata sim, a melhor forma de dar uso aquele conhecido slogan do
turismo de Portugal "vá para fora cá dentro", que nos incentivava a fazer férias à antiga portuguesa.
Ora, se bem me lembro, as
férias à antiga portuguesa eram, irmos com a familia toda
acampar para o Algarve, com a trouxa toda dentro do carro, a
tenda, tachos, pratos, alfaces, fogão da campingaz, que, em conjunto com a mãe, o pai, a avó, o tio, o mano, o cão e a gaiola do periquito, levava o chassis do carro até ao chão. O
carro, esse, a cair de velho, com as janelas abertas porque não havia ar condicionado, mudanças que faziam um barulho do caraças a entrar,
direcção assistida a braços e um auto-rádio com uma
cassete que tinha de ser virada de 30 em 30 minutos, do lado
A para o
B.
Mas nós íamos, em pleno Agosto,
todos transpirados e contentes da vida, ansiosos por ir à água, jogar raquetes, e
comer sardinhas com salada de tomate, iguarias feitas pela mãe e pela avó enquanto o pai jogava cartas com o tio. Ah, e à noite adormecer ao som dos peidos fedorentos da avó!
Conclui-se aqui que,
íamos NÃO para fora, mas ficávamos cá dentro.
Passaram-se vários anos, e gerou-se em Portugal, a
classe média alta (agora em fase de extinção). Esta classe, conseguiu umas coisas muito bonitas chamadas
visas e
empréstimos.
E com estas coisas conseguiam ir de férias para
sitiozinhos muito em conta, como é o caso do México, de Cuba ou de Punta Cana. Depois voltavam, com um
bronze do cara**o e com umas férias para pagar durante um ano, até irem de férias no ano seguinte.
Resumindo,
íamos para fora e nao ficávamos cá dentro.
Actualmente, já ninguém vai para
o Algarve acampar, porque
fica caríssimo, e já ninguém vai para México/Cuba/Punta Cana, porque
os bancos não concedem empréstimos e o
visa ficou sem plafon no
Natal (porque também não há subsidios).
Então vamos mesmo para a praia mais perto de casa. Em Lisboa vai-se para a costa ou para a linha.
A experiência "vá para fora, cá dentro":
Chegamos à praia, tentamos achar um
buraquinho para metermos a toalha, deitamo-nos e levamos com o puto do lado
aos gritos (daqueles que ecoam no cérebro), com o cheiro a
sandes de chourição, com uma bolada na
tromba e com
areia no focinho pelas constantes passagens rentes à toalha.
Mas até aqui tudo bem, é à portuguesa!
Entretanto, eis que começamos a ouvir o
dialecto do casalinho do lado que será certamente
inglês "Where is the sunblock?" "Do you want some watermelon?", que se mantêm ingleses e super-chiques até chegarem os pais da miúda "Foda-se, estava difícil arranjar um lugar", e a
rapariga inglesa responde "Podes crer".
Fantástico, está em Portugal há 24 horas e já fala
português correctamente!
Continuo deitada na toalha (também não tenho espaço para variar posições) e começo a ouvir a familia que está atrás "Laisser votre frère seul", que eu penso serem
franceses. Errado,
eram franceses! Deixaram de ser no momento que os putos se chateiam um com o outro "Se me continuas a bater levas uma
puta no focinho ó Jennifer". Olha, outros!
Esperem lá (penso eu enquanto oiço uma kizombada vinda da toalha da frente) que isto é o
milagre de babilónia invertido, ninguém falava a mesma língua e afinal agora já todos se compreendem!
E depois caio em mim, e lembro-me que afinal os portugueses já são é quase todos
emigrantes.
Mas vale pela experiência, porque
no final de um dia de praia, entre tanto francês, inglês, castelhano, brasileiro e
crioulo, sinto-me como se tivesse ido a
Nice,
Londres, a
Madrid e,
Rio de Janeiro e
Cabo Verde (agora percebo aquela música dos "Da Vinci")!
E sem sair da
toalha na Caparica!
E se tiverem uma
amiga hospedeira convosco, que vos pergunte de hora a hora se querem chá ou café, garanto-vos que o
feeling fica completo!
Agora digam-me lá se esta não é a
verdadeira experiência do "vá para fora, cá dentro"?
Amarguinha